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Spotlight

Amazônia vê aceleramento de destruição, e o amanhã poderá ser ainda pior

Dois primeiros meses de 2022 tiveram recorde de desmatamento de bioma fundamental para manutenção de clima e temperatura do planeta


O renomado fotógrafo Sebastião Salgado, em sua exposição Amazônia, no Sesc Pompeia, em São Paulo, chama a atenção para os rios aéreos presentes na região. Fenômeno pouco conhecido, esses rios voadores carregam vapor, fluem por boa parte da América do Sul e conduzem mais água do que o rio Amazonas. São 20 bilhões de toneladas de água por dia que sobem da selva em direção à atmosfera.

Os rios voadores são fundamentais para a manutenção dos padrões climáticos em todo o planeta, particularmente no Brasil. Com o desmatamento acelerado nos últimos anos, a temperatura da Bacia Amazônica subiu 1,5ºC. Cientistas estimam que essa média irá subir mais 2ºC se as tendências atuais de destruição persistirem.


“Acontece que, como escala de grandeza, o que não nos afeta imediatamente a gente não se preocupa, muito menos com as gerações futuras”

analisa Reinaldo Campos, especialista em design thinking.


“Se hoje temos atmosfera para respirar, não achamos necessário tomar atitudes de preservação. Essa falta de vínculo com o que vai acontecer mais para frente permite que se tomem decisões egoístas“

acrescenta Reinaldo, que é palestrante da Spotlight.

De fato, estudo publicado pelo jornal Nature Climate Change mostrou que a Amazônia está em um ponto em que a destruição pode ser irreversível. Ou seja, a capacidade de recuperação da floresta vem diminuindo nos últimos 20 anos devido a fenômenos como estiagem, queimadas e mudanças climáticas. Segundo pesquisadores, mais de 75% da floresta já mostra dificuldade de se recuperar de eventos adversos. As regiões menos chuvosas são as mais afetadas.



Rios voadores da Amazônia transportam 20 bilhões de toneladas de água por dia


A tendência dos últimos meses é agravar ainda mais o problema. Em 2022, o desmatamento atingiu nível recorde para o mês de fevereiro. De acordo com dados divulgados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), foram 199 km2 desmatados em fevereiro, o que representou aumento de 62% em relação ao mesmo mês em 2021. O desmatamento segue crescimento que já havia sido percebido em janeiro. Nos dois primeiros meses do ano a destruição foi três vezes maior do que no mesmo período no ano passado.


“Não sou de natureza pessimista. Mas, nesse caso, encaro de maneira realista. Os números não mentem. A gente percebe que o que está acontecendo naquele bioma é um projeto de exploração selvagem, por pessoas com más intenções, que querem aproveitar o momento de desorganização da sociedade civil promovido por esse governo para cometer ilegalidades”

analisa Rodolfo Guttilla, que atuou por 13 anos em projetos da Natura na Amazônia.


A destruição pode ser ainda mais acelerada, já que a Câmara aprovou urgência para a votação de Projeto de Lei 191/20, que permite a mineração em terras indígenas. O assunto deve ir a plenário até abril. Se aprovado, deve contaminar ainda mais os rios da região.


“Esse governo está comprometido com essa agenda retrógrada, predatória. Você percebe que não houve mudança significativa na posição do Ministério do Meio Ambiente. O atual ministro só não faz tanto barulho. Mas estão passando a boiada”

comenta Rodolfo, que é palestrante da Spotlight.


O desmatamento, queimadas e alterações no clima são ameaça real à imensa diversidade do Bioma Amazônico. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, a estimativa é de que na Amazônia vivam mais de 30 mil tipos de plantas catalogadas, sendo 2.000 utilizadas na alimentação, medicina e na produção industrial. Só na porção brasileira da Amazônia, estima-se que haja 311 mamíferos, 1.300 aves, 273 répteis, 232 anfíbios e 1.800 peixes de água doce. A Amazônia também possui uma imensa riqueza humana: são cerca de 170 etnias indígenas, 130 línguas diferentes em uma população de aproximadamente 310 mil pessoas.


O líder indígena Ailton Krenak, em seu livro “O amanhã não está à venda”, faz um paralelo entre as espécies ameaçadas de extinção e o homem, que destrói a natureza.


“Temos que abandonar o antropocentrismo. Há muita vida além da gente, não fazemos falta na biodiversidade. Pelo contrário. Desde pequenos, aprendemos que há listas de espécies em extinção. Enquanto essas listas aumentam, os humanos proliferam, destruindo florestas, rios e animais”

escreve o ambientalista.



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